O lamentável episódio das agressões a magistrados no tribunal improvisado no quartel dos bombeiros da Feira dá uma imagem arrasadora deste País.
No caso da Feira, aliás, está uma verdadeira enciclopédia sobre a forma como o parque judiciário tem sido tratado pelos sucessivos governos.
O tribunal da Feira – o verdadeiro – foi fechado por apresentar sinais de degradação perigosos. Construído numa zona pantanosa há menos de duas décadas, o prédio esteve a cargo de construtoras diferentes e, num dos casos, falida.
Damos de barato que possam existir factores atenuantes em todo o processo de construção. Não é, porém, admissível que o parque judiciário e muitas outros sectores, alguns dos quais estruturantes para o desenvolvimento de um país, sejam geridos em função de ciclos de vida tão curtos. Esta obra atravessou vários governos e foi concluída num dos executivos de Cavaco Silva. Do dia da inauguração para cá foi-se afundando ao ponto de gerar o caos conhecido na administração da justiça num dos concelhos com mais litigância do País.
Quando chegamos a um ponto em que já nem os tribunais são espaços seguros e os juízes podem ser alvo da ira de qualquer um, poucas esperanças restam para que o tribunal afundado num pântano não seja uma implacável imagem do próprio País.
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Eduardo Dâmaso
Correio da Manhã de 27 de Junho de 2008
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