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Talvez a maior crise do pós-guerra sirva para nos reestruturarmos no sentido da vida. A violência e a insegurança alastram e, claro, isso costuma acontecer em tempo de crise.
Se a Segurança é sempre um tema complicado – todos o sabemos – mais se torna em tempos como os que vivemos: mas a segurança é também uma necessidade colectiva a satisfazer pelos poderes públicos, que nos estados democráticos não pode – nunca – ser satisfeita à custa dos direitos, liberdades e garantias, como é evidente. Não quero uma inseguríssima segurança.
Nada disto quer dizer que o Estado aliene a segurança e muito menos que não adopte políticas preventivas, por forma a que não nos venhamos mais tarde ou mais cedo a deparar com violência e medidas securitárias com adesão popular.
Há alguns anos, estava de vereadora da oposição no executivo camarário liderado por João Soares, critiquei profundamente (actas e actas de reuniões documentam--no) os realojamentos que se estava a fazer com aplauso generalizado. E critiquei a política de realojamento porque, como na altura referi – não mudei de ideias – se estava a criar verdadeiros guetos – que são excludentes e proporcionam a violência. Substituir barracas por outras barracas em altura não dá bom resultado, não podia dar. Há especificidades comunitárias às quais é preciso atender. Há integrações a fazer que passam por equipamentos colectivos. As integrações são difíceis e também passam por equipas de apoio social, multidisciplinares. Voltamos à escola e à necessidade de legalizar muitos daqueles que ainda se encontram em situação de ilegalidade.
No meio de tudo isto, começa a ser verdadeiramente incompreensível a passividade do Governo perante a violência diária: da máquina do multibanco arrancada de um tribunal a agressões a juízes e conflitos com armas de fogo, passando pelo já vulgarizado carjacking.
Onde anda o Governo? Sempre que há um problema na sociedade portuguesa o Governo espera que ele passe e como nada – mas nada – há que não passe... passará. A que custo? O que é preciso fazer para tirar o Governo das doses de Xanax que o mergulham numa letargia profunda sempre que há um problema?
Há tanta coisa a fazer: basta começar por ter bom senso e falar verdade. Os problemas estão diagnosticados, é só dar-lhes os antibióticos adequados. Deixar uma sociedade doente e em tensão sem tratamento, à espera que a doença passe, pode levá-la ao coma profundo.
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Paula Teixeira da Cruz, no Correio da Manhã de 17.07.2008
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